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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Entrevista com LONG


Salve Rapaziada que curte o BLOG, estou meio focado no livro, mas sempre que puder vou atualizar essse espaço aqui, essa entrevista de hoje está muito boa, vale a pena conferir.







Qual seu xarpi?
Long.

Começou a colocar nome em que ano?
No final de 95. Ou início de 96... É que eu colocava outro nome – Trak – por isso não sei ao certo. A “febre” durou até 2002, depois arrefeceu. Só voltei pra valer há uns três meses.

Lembra de algum fato marcante desse ano? (Política ou esporte, por exemplo) alguma coisa que tenha te marcado?
Não me ocorre nada, agora... Mas, para quem foi adolescente nos anos 90 e não tinha vocação para yuppie, o jeito era ser grunge. E eu fui. Digamos que eu comecei a xarpi entre a morte do Kurt Cobain e a do Renato Russo. Serve?

O que te levou a entrar no xarpi?
Conhecia muita, muita gente do xarpi. E estudava, aliás, com dois primos do Mor – fundador da LM – e com o irmão do Grun. Talvez fosse inevitável.

O que a pichação representa pra você?
Acho que o xarpi existe, assim como a Arte, porque a vida não basta, cara. Então, talvez seja uma maneira de rebelar-se contra a finitude, não sei... Ou talvez eu só esteja divagando chapado diante do PC. Mas a textura da parede, os ouvidos atentos ao menor ruído, o cheiro da tinta... Tudo isso, somado à adrenalina, vicia.

Por que você resolveu colocar esse nome? Algum motivo?
Um amigo, o Mengo, sugeriu o nome e, como eu já estudava inglês desde moleque, “long” fazia parte do meu vocabulário corrente. Além disso, soa bem, vai!

Tem algum parceiro? Alguém com quem você gosta de pichar junto?
Agora, depois desses anos todos, não tenho mais. Tenho saído sozinho desde que voltei. Antigamente, no entanto, eu curtia sair com o Bosto e com o Tark, que eram parceiros habituais. Mas tinha uma galera com quem eu saí eventualmente também: Lado, Cruz, Tasco, Moma, Charme, Sank, Talão... Vários.

Qual tua sigla (se tiver) e o que significa? Já teve outras?
LM (Lunáticos da Madrugada, Legião do Mal ou Legião da Maconha. Eu prefiro a primeira). Mas também já fui da VRG (Vândalos Rebeldes do Grafite) e da MR (Mente Rebelde).

Quem mais representa tua sigla (outros integrantes)?
Moma, Grun, Fluir, Sank, Oval (com muito nome ainda por aí), Flow, Kunk... E muitos outros.

O que você mais gosta de pegar?
Pastilha, acho. Mas eu pego de tudo (se durar um dia ou uma década, não importa, desde que fique legal).

Quem você admira no xarpi? Quais os nomes?
Admiro muito o Mor – o Lunático original que, infelizmente, morreu de modo estúpido – surfando no trem. O Lopã também morreu assim.

Geti, Mor e Fluir, abaixo das janelas.

Fora esses, quem na atualidade tá se destacando na tua visão?
O Boina tá em todo lugar, cara!

Qual a caligrafia mais criativa na tua opinião?
Curto muito a caligrafia mais recente do Fluir, a do Charme e a do Zeros, claro. São todas sofisticadíssimas.

Frequenta ou frequentou reuniões? Qual ou quais?
Fui à reunião de Madureira algumas vezes e cheguei a assinar alguns cadernos em Nova Iguaçu, mas, confesso, não sou dos mais sociáveis...

Qual a importância das reuniões pro xarpi?
São fundamentais para consolidar a união de um grupo que, afinal, é tão marginalizado.

Faz ou já fez pasta (caderno, agenda, fichário, folhas)? Enfim, coleciona nomes?
Colecionei até 98, acho, mas uma ex-namorada jogou meu caderno fora. Tinha muitos nomes lá.

O que você acha dessa era xarpi digital?
Acho importante para que o pessoal mantenha contato, marque reuniões, discuta as proezas e tal, mas eu sou um sujeito antiquado – quase analógico.

Qual época era mais fácil pra xarpi, 80-90 ou 2000 (Resposta opcional)?
Acho que toda época oferece seus perigos, em se tratando de uma atividade de risco como a nossa.

Qual a melhor parada que tu já pegou?
Acho que foram uns containers na Dutra, dezenas deles, em 99 ou 2000. Qualquer um que passasse de ônibus se cansava de ver Bosto e Long. Uma sequência enorme que durou pouco, mas deu o que falar.

Na sua opinião, qual é o maior castigo pra um pichador?
É a morte, sem dúvida. Depois de uns anos a gente lida melhor com as outras possibilidades – voltar pintado pra casa, levar um pau, apagarem nossos nomes. Mas a morte, eu acho, não ensina nada e só faz mitificar o sujeito aos olhos dos mais jovens.

Já passou muito perrengue ( não chegar a rodar, só perrengue)? Cite um.
Ih, muitos... Já cheguei a correr de um amigo, cara! Tava colocando um nome quando ouvi: “Josu, nemá!” e todos começaram a correr. Numa espécie de “efeito manada”, corri também, ora. No dia seguinte a gente descobriu que era só um amigo – não me lembro de quem era – querendo filar a tatin.

Qual foi a pior rodada?
Já rodei algumas vezes, claro. Tanto para cialipo quanto para morador (rodar para dodiban é uma experiência que não desejo viver), mas a pior – em termos de absurdez – foi a vez em que eu saí com o Tark (duas latas na mochila, um vermelho esmalte e um branco gelo) para testar os birros na linha do trem em N. I. e partir para a ação.
A gente tinha esquecido os birros mais finos em casa mas, já que comprei as latas na ida, achei que não faria diferença. Mal riscamos a parede quando três “supervias” já fungavam no nosso pescoço, rindo, doidos para abusar do pouco poder que um uniforme confere a esse tipo desprezível. Você sabe, a gente fica meio negligente com a segurança na linha, por isso nem percebemos a aproximação dos caras. Um deles pediu o birro. Eu não quis entregar e, quando disse que eles não iriam nos pintar, o cara deu uma porrada, que eu defendi num reflexo. Fraturou três dedos meus. O mínimo parecia até um segundo polegar de tão torto! Difícil foi segurar o ímpeto de esmagar a cara do filho da puta com a lata... Entreguei as latas, mas não deixei que nos pintassem. Nervosos com o estado da minha mão, os caras liberaram a gente em seguida.
Essas coisas ridículas acontecem, cara. Sobretudo com dois moleques mirrados como Tark e eu éramos... Se a gente estivesse com uns negões feito o Charme e o Tisoro era bem provável que déssemos uma surra neles com os próprios cassetetes.

Depois dessa história triste, conte qual foi a melhor saída?
Ah... Moma, Bosto e eu, na Dutra, em 99. Saímos para pegar umas placas, de branco. Fazia muito calor e, depois de pegar umas três ou quatro placas grandes inteiras, a gente foi tomar uns refris de garrafa (era o Simba ainda?)... Foi quando me tornei o mais novo membro da LM. Para melhorar, só se fosse um gelo em vez do refri.

Se arrepende de ser ou de ter sido pichador? Por quê?
Não. Porque vivi muita coisa e, em última análise, o arrependimento neste caso é um sentimento inútil.

O que a pichação te deu?
Alguns amigos e certa notoriedade nos anos 90.

O que a pichação te tirou?
Outros amigos e a confiança que meus pais depositavam em mim.

Quase me esqueci de perguntar: você é de que área?
Queima 2.

Quem da tua área representou na antiga?
Ximo, Pity e mais uma galera.

Como você viu esse boom da pichação de uns anos pra cá?
Apesar da estranheza inicial, sinceramente, curti muito a volta maciça da G. 80. Os caras estão em toda parte... Por outro lado (não generalizemos, claro), o número de caga-muros que põem nomes com mata-bicheira e se acham excepcionais tem aumentado significativamente. Mas o tempo, acredito, vai se livrar da maioria.

Na sua opinião, qual ou quais os bairros mais pichados da cidade?
A Z. Norte tá bonita. A baixada também.

Se arrepende de ter posto nome em algum lugar?
Não, absolutamente (e eu já peguei o beiral de um colégio – o que para alguns é uma espécie de tabu). Talvez eu só lamente não ter posto uns nomes com um amigão meu, o Relp, antes que ele morresse. Uma pena, realmente.

Tem profissão? Qual?
Sim. Sou editor de texto em ficção estrangeira de língua inglesa, professor de língua portuguesa, produção e interpretação textuais.

Qual teu time?
Flamengo.

Ouve que tipo de som?
Folk, indie, pós-punk, cool jazz...

Algum filme? Qual, quais?
Um filme canadense muito bom a que assisti recentemente, As Invasões Bárbaras. Recomendo.

Se pichassem o seu muro, casa etc. O que você faria?
Deixo lá até que eu resolva pintar. Não me importo com isso, não.

Se seu filho (caso tenha) fosse pichador, o que você faria?
É uma hipótese cruel, hem! Eu tentaria dissuadi-lo, já que a gente conhece os riscos que os mais jovens insistem em ignorar.

Sua família sabe que você picha ou pichava?
Sabe, sim. Depois que se chega com os cabelos pintados e cheirando à gasolina, amigo, toda a discrição já era.

O que tá achando da entrevista?
Muito boa.

O que tua namorada acha dessa história de você pichar?
Minha mulher acha um absurdo e não compreende o meu fascínio (acho que só quem é do xarpi compreende, a propósito), mas se esforça para não me julgar.

O que você diria para os que estão começando agora?
Tenham cuidado e respeito, que o tempo ensina o resto.

Deixe um recado pra quem estiver lendo sua entrevista.
Um poema marginal:
“Eternamente
É ter na mente
Éter na mente
Eternamente”

3 comentários:

Anônimo disse...

MOMA E OVAL ERA SINISTRO REPRESENTAVA LEGAL A BXD

Long disse...

Concordo. Uma das duplas mais destacadas de Queima 2, sem dúvida, apesar de o Moma ter saído bem mais com o Grun.

Long disse...

EXTRA! EXTRA!

O LONG vai mudar de caligrafia!

Após 17 / 18 anos de Xarpi, resolvi mudar de caligrafia, uma vez que a antiga (a mesma desde o meu início), além de não me satisfazer mais, levava muito tempo. A nova - com franca inspiração na do LADO (L), meu amigo de sempre - é compacta, clean e leva menos que 10 segundos (é sério, eu contei).

Depois, caso eu resolva fotografá-la (já disse que sou avesso à tecnologia), peço ao NUNO que acrescente à entrevista, blz?

Abraço a todos,

LONG.