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segunda-feira, 2 de março de 2009

Entrevista para colégio Pedro II. do Centro


Pichação é arte ou crime?
Pra quem está de fora é crime, vandalismo, depredação, etc...
Pra quem está dentro é arte, meio de comunicação, cultura, estilo, etc..
Mas na verdade é crime sim, mas um crime banal, perto dos que acontecem diariamente por aí, um crime que não mata nem fere fisicamente ninguém, a não ser os próprios pichadores. que vivem se machucando ou até morrendo, em prol da arte incompreendida.
Tenho noção que já fui responsável por algumas demissões de porteiros e seguranças que não me viram pichando em seus locais e trabalho e acabaram perdendo seus empregos, esse é um ponto ruim que a pichação tem, e acaba causando nas pessoas uma revolta a mais, além da casa pichada, que já é um motivo das pessoas não aceitarem a gente.
Mas respondendo a pergunta, é crime e arte ao mesmo tempo, arte marginal.

Você foi indicado em 2007 e 2008. pros melhores do topo nesses anos, qual seu sentimento quanto isso?
Porra!
Pesquisou mesmo os fotologs hein!
Se eu falar que não gostei das indicações estarei mentindo, lógico que mexe com a alto estima de qualquer um, mas por um outro lado, não ligo nem um pouco pra isso.
Tem gente que picha o ano todo em função dessa eleição, tem gente que vendeu geladeira, fogão tênis, pra comprar tinta, e no final do ano, não ganharam nada, e pior, uns nem foram citados nos votos.
Acredito e cultivo o pensamento que, todo pichador é igual, principalmente quando roda!
A lei é aplicada da mesma forma, não importando se, você é novato ou antigo, se tem pouco ou muito nome, se picha no alto ou no baixo, a porrada o esculacho ou a pena são iguais!
Prêmio pra mim hoje, são as conexões que venho fazendo com pichadores do Brasil inteiro, conexões essas que, uma ali outra aqui estão virando amizades, conhecendo bairros e lugares que nunca ia por os pés, muito menos as mãos, se não vivesse essa onda de tinta.
Até as cicatrizes que arrumei nas noites, são mais importantes que esses prêmios, pois vou levá-las pra vida toda, e cada uma tem sua história, bairro, cor de tinta, emoção e motivos diferentes, cicatriz é troféu, hematoma é medalha, arranhão consolação.. rsrs
Falando sério agora!
Acho válida a organização, a confraternização, o sentimento de união que esses eventos trazem afinal, fechar uma casa noturna conhecidíssima na Lapa pra fazer um evento de pichação era impensável há alguns anos atrás, mostras que não só os pichadores amadureceram, mas as intenções, objetivos e metas também .
Mas pra mim a real é:
Urna de verdade é a rua e prêmio é fazer amigos, o resto é só tinta na parede.
Mas cada um tem que ir no caminho que se sinta bem, cada um tem seus valores, se a eleição for importante pra alguém, ele tem que ir atrás com unhas e dentes, birros e latas.
É como diz a poética canção, cada um no seu quadrado.

Você não tem medo de rodar?
Lógico que sim! Mas isso faz parte do jogo, imagina se um goleiro entra no campo com medo de tomar gol!
É uma coisa que está sujeito a acontecer, mas se ele tomar um gol, é bom que o time dele faça pelo menos mais dois.
Se você sair cinco vezes e rodar duas ou três, é melhor refletir e procurar seus erros e corrigi-los há tempo.,
Pra você ter uma idéia, em 2007 rodei duas vezes e em 2008 apenas uma, média ótima, se fosse goleiro seriam apenas três gols tomados em duas temporadas.
Rodar ou não depende mais de você do que qualquer outra coisa, se você vai numa área sem conhecer nada, suas chances de rodar aumentam, se você sai sem escolta, e fica procurando na hora os locais pra pichar, as chances aumentam também, sair em bonde é furada certa.
Eu só saio de casa, se for com escolta, se souber aonde vou, como vou, por onde vou e quando vou, se não nem perco meu tempo. Pichar hoje em dia tem que ser primeiro com a cabeça, depois com as mãos, a cabeça funciona como um arquiteto e as mãos como pedreiro, se só tiver arquiteto a obra não sai do papel, se só tiver pedreiro, a casa pode cair, então unindo duas coisas, as chances de tudo sair certo é maior

Como surgem as parcerias entre vocês?
Sei lá! Você só faz perguntas difícil hein! kk!
Como na vida normal são pelas afinidades, pichadores que moram próximos uns dos outros tendem a sair juntos, ou que são da mesma época, ou que tem o mesmo estilo, etc...
pra falar a verdade não tem nenhuma receita além da afinidade não.
Geralmente nas reuniões é que acontecem as conexões, mas hoje a net facilitou os contatos, fechei rolés com COLA, ARI, NATH, ISAK, RITO, VUTO e FYT todos pela net, sem nunca ter visto eles pessoalmente.
E também fechei rolés ao estilo antigo, nas reuniões trocando telefone, com PINGO, por exemplo.

E como você sabia que ia dar certo?

Como falei lá em cima, pichadores tem estilos, alto baixo pedra etc...
Não conhecia a pessoa física, porém os nomes nos muros conhecia, estava mais que ciente do potencial deles, pelas paradas que eles tinham nas ruas, pela noção de escolta,, via coisas deles que pensava, poderia ser meu nome ali, mas ele chegou antes de mim, mesma noção de escolta, então você sabe e sente que a coisa vai fluir se você um dia sair com aquele pichador.

Ferrugem, de onde surgiu essa fissura por esse estilo?
Acho que o sonho de dez, entre dez pichadores que picham no alto, é pegar um ferrugem, porém o pessoal da geração 2000, pegou todos os ferrugens que davam pra descer por cima as plataforma do viaduto.
O SIRP criou uma técnica de descer de corda, e pegou todos os que davam (pelo menos esse era o pensamento da grande maioria)
Mas como sou da minoria, fechei uma parceria de ferro com o FYT pra descer nos ferrugens limpos que tinham por aí, melhoramos essa técnica (em cada ferrugem, a gente ia vendo uma forma melhor de amarrar e descer) e estamos pegando todos os que pareciam ser impossíveis, amarramos a corda no pára peito do viaduto em direção a luminária, descemos pendurados pela corda, pisamos na luminária e entramos no ferrugem, depois é só ter calma e tinta pra fazer o serviço.
À parte foda do ferrugem é o psicológico, tem uma hora que você tem que decidir se vai ou não, é a hora crucial, colocar o corpo pra fora do viaduto soltar o pára peito e ficar só na corda.
Se essa fase for superada, as outras etapas são mais tranqüilas, porém perigosas, mas o coração bate forte mesmo é na descida da corda depois que pisa na luminária, ele volta ao normal

Mas quando não tem a luminária?
Lembra que falei que melhoramos a técnica? Então criamos uma amarração secreta, kkk,
onde não precisamos da luminária pra servir de base, ficamos na corda pendurados, na tal amarração, tipo macaco no cipó, e fazemos um movimento de pêndulo em direção ao ferrugem, quem vê de baixo fica apavorado, é como se fosse um sino badalando, pra lá e pra cá, até conseguir tocar e pegar o ferrugem.

Mas e se a corda arrebentar?
Do chão a gente não passa! Rsrs
To zoando, a corda não é de amarrar pão não, é de rapel, carga de 200 quilos, ainda uso dobrada, aumentando pra 400 quilos, tenho só 65 quilos, precisaria um monte de Nunos pra começar a ameaçar a corda.
Mas eu te pergunto, e se o pára quedas do cara lá não abrir?
E se o navio lá bater numa pedra?
E o avião cair?
E se o pneu furar e você estiver sem estepe?
Por mais segurança e confiança que se tenha, todos estão passivos de um erro ou imprevisto, nossa regra no ferrugem é que é, proibido errar, já fomos em ferrugem, que não nos sentimos confiantes e não descemos, a gente Põe na balança os riscos e quando o lado do erro está mais pesado que o do acerto, a gente volta.
Brincamos que a corda é nosso seguro de vida, nosso vida fica amarrada nela por preciosos segundos
Mas a confiança que sinto no FYT pra fazer essas doideiras é que me dão calma, moleque é pureza e disposição. Um aprende com o outro.
Calma a confiança são equipamentos inquebráveis
..
Quem é o pichador a ser batido ou superado no momento?
Essa pergunta tem que ser feita pros pichadores que picham tentando superar alguém, meu maior desafio, é superar só uma pessoa, eu mesmo, não me preocupo com ninguém, a não ser comigo, coloco nome em um lugar, depois fico analisado, vendo onde poderia ser melhor, vejo espaço entre um nome e outro, simetria dos nomes, etc...
Vou tentando fazer hoje melhor que ontem, pra amanhã olhar pra trás e ver que valeu a pena, e que minha passagem pela tinta foi de maneira limpa.
Mas acho que como tem a eleição do Xarpi Rap Festival, os pichadores a serem superados são aqueles que são os melhores em cada categoria.
Esse ano foi:
Topo – BOBE
Janela – DIGO
Andarilho - VUCA
Recuado - TAS
Caligrafia - TOKAYA
Pedra - PLAYBOY
Relíquia – GOLE
Revelação - COOL
Respondendo a pergunta então, na atualidade esses são os pichadores a serem batidos no momento.
Só desejo sorte pra quem está com esse objetivo. Pois eu vou por outro caminho.

E o Dvastasom, vai sair ou não do papel?
Acho que é só papel mesmo, não tenho pretensão levar isso pra frente não, uso as letras como passa tempo, tenho uma facilidade de fazer e fico brincando com as palavras, mas é só terapia ocupacional, sem maiores intenções de gravar. Se um dia acontecer, tudo bem! Mas não faço nenhum esforço pra que isso aconteça. Deixa o vento levar e vamos ver no que vai dar.
www.fotolog.net/dvastasom

Lembra de alguma agora?
Claro que sim,

Levanta a mão pro alto quem usa branco fosco
Quem sabe que na rua, todo cuidado é pouco
Levanta a mão pro alto quem usa preto fosco
Quem lava sua alma enquanto suja o rosto

Não mudo meu estilo em lugar nenhum
Qualquer bairro que invada, sou sempre o Nonu
Aquele que é insano, mas não bebe nem fuma
Acostumado a ver de cima quando passa a viatura
Janela, recuado, topo, cabo de aço,
lateral do prédio cabeça pra baixo
janela, ferrugem, na pedrinha eu encaixo
gosto de botar meu nome em cima, mas também tenho nome no baixo
ene U ene O - Destruidor do visual e tudo ao seu redor
Feio pra caralho e faz bonito no gogó
Amigo do silêncio, inimigo do barulho
Pra grande maioria só um pichador de muro
Mas quero que se foda a maioria
Porque eu sou pureza, e fecho com a minoria
Desde pequeno aprendi com meu pai
Que muito não é nada e menos é mais
Vou levando minha vida com a boca e com a mão
Com a mão eu boto nome, com a boca eu faço som
Sou arteiro, não me confunda com artista
Quero meu nome no seu muro, não na capa da revista
Sou o mau exemplo pro seu filho
Que acha que a tinta é uma arma e o birro é um gatilho
Não sou fotografia, mas também me revelo no escuro
Nas ruas me conhecem como Nuno


Levanta a mão pro alto quem usa branco fosco
Quem sabe que na rua, todo cuidado é pouco
Levanta a mão pro alto quem usa preto fosco
Quem lava sua alma enquanto suja o rosto

Eu não sou 3° nem 2° nem 1°
Sou apenas um xarpi, do Rio de Janeiro
Eu não sou comando e muito menos comandado
Sou apenas um xarpi mandando meu recado
Mas se você quer saber a minha facção
Se liga nesse papo que te mando sangue bom
Não importa o seu time, sua cor, seu bairro nem sua religião
Importante é a pureza que você tem no coração
Nas ruas me conhecem como Nuno
Facção é o caralho, vamos pichar tudo

Levanta a mão pro alto quem usa branco fosco
Quem sabe que na rua, todo cuidado é pouco
Levanta a mão pro alto quem usa preto fosco
Quem lava sua alma enquanto suja o rosto


Essa aí vai sair no vídeo do Guga chamado: LUZ, CÂMERA. Pich.ACÃO, me empolguei e cantei lá na capela, só não lembro se lá cantei toda.


Que vídeo é esse?
Começou mais ou menos assim, o Guga voltou de viagem e me disse pelo MSN que estava com uma câmera, então falei que tinha uma escolta boa pra filmar e que era iluminada e tal, marcamos de filmar.
Depois da filmagem, ele falou que tinha material pra fazer um curta, filmamos outra missão na semana seguinte, aí com esse material, foi amadurecendo a idéia de se fazer um filme, até então era só pra por vídeo no you tube, como todo mundo faz.
Ele chamou o Marcelo pra filmar, depois chamaram outra pessoa pa editar, compraram um microfone pra pegar melhor o áudio das entrevistas, fizeram várias entrevistas, surgiu a idéia de fazer trailers do filme, foram feitos dois trailers e passaram lá no XRF4, e agora surgiu a idéia de fazer um site com domínio pro filme, pra não ficar uma coisa jogada, mas com cara de profissional, passando maior credibilidade, e só Deus sabe onde isso vai parar

É adversário daquele “Que o mundo veja”
Claro que não, nada de adversário, na verdade é aliado, um completa o outro a idéia é somar os trabalhos, curiosamente, não tem ninguém que participou do QUE O MUNDO VEJA, isso é bom, pra que as pessoas não fiquem fazendo comparações, tipo a entrevista de fulano foi melhor nesse filme do que no outro, isso não levaria a nada.
Em vários focos mais interessantes, mostrar os pichadores em ação por xemplo, mas tem foco também nos pichadores fora da ação, as entrevistas, os relatos, mostram que por trás da lata de tinta somos pessoas comuns, com outra qualquer, com erros e acertos, umas das idéias é desmarginalizar o olhar que as pessoas comuns tem de nós pichadores, é um filme feito pra pichador, mas preocupado também, com as pessoas que não são pichadoras, vai ter gente que vai ver o filme e vai até deixar o filho pichar, pelo fato dele não estar se envolvendo com marginais, e pelo ambiente que tem o mundo da tinta.
É possível que vejam alguma entrevista e digam, esse pichador aí é gente boa, já foram entrevistados, KEL, NATH, NADOS, HAIR, LEONEL. RUNK, NUNO, FYT, FLYT, mas outros estão na mira dos produtores
Aguardem no meio do ano de 2009, preparem a pipoca que vi ter filme de ação na tela.

Algum recado pra quem estiver lendo essa entrevista
KK essa pergunta eu conheço, fecho o blog com ela.
Sim, sempre tenho um recado, mas esse eu vi numa palestra do Silas Malafaya.

O mundo de um cego é limitado pelo alcance de seu tato,
O mundo de um ignorante é limitado pelo alcance de seu conhecimento
O mundo de um sonhador, não tem limites.
Sendo assim, sonhe bastante, mas corra atrás de seus sonhos, sonhos não envelhecem, não custam nada, sonhem sempre com as coisas mais impossíveis e distantes e corra atrás deles, mesmo se você não conseguir, ao olhar o caminho percorrido, verá que você foi longe demais.