Texto do FONIX

Tão bom quanto uma entrevista é saber como a pessoa, em qual momento da vida, em que minuto ou segundo, o olhar de alguém avistou um nome na parede, e como surge o interesse pela tinta.
Mais um texto, falando sobre isso, e melhor ainda contado pela própria pessoa que viveu a experiência. 


Tudo começo em 2008, estava no ginásio, sempre fui quieto, responsável e com notas boas, minha família tem uma boa renda por mês, com isso meus pais sempre compravam coisas que eu gostava para eu ficar em casa e não ir para rua, nessa época eu ia para escola de condução, eu era o primeiro a ser pego e o ultimo a ser entregue, então eu passava horas naquele carro sem nada para fazer, foi ai que comecei a prestar atenção na rua, prestava atenção nos carros, nas mulheres rs, até que um dia, resolvi olhar para aqueles desenhos grandes e coloridos, o grafite, comecei a pesquisar na internet sobre eles, eu era fã do SCRAU, sempre via os desenhos dele pelas ruas cariocas, também admirava o IOGS,RAIOS,JOIA,SHUN e KAI.

Cada vez mais eu estava louco pela tinta, eu queria ser muito igual a eles, grafitar os muros e etc, depois de um tempo, no final de 2008, eu comecei a ver as pixações, eu não entendi muito bem os nomes, eu via o SONY da G80, como não sabia ler direito, via como SOBY, eu via GOL da g80, lia como GOW, depois percebendo mais sobre xarpi, comecei a pesquisar, via todos os vídeos do youtube, procurava tudo sobre xarpi, até chegar a conclusão que era aquilo que eu queria para minha vida, viver com adrenalina, divulgando meu nome, mesmo sabendo que aquilo podia me trazer conseqüências.

Chegando em 2009, eu estava muito interessado pela pixação, comecei a fazer como todo mundo, pixar no colégio, eu copiava o nome de um cara que não sei o nome dele até hoje, parecia uma tangerina o nome dele, eu chamava de tangerina rsrs, comecei a xarpi tudo, a adrenalina e diversão se juntaram de uma maneira tão forte naquele momento que eu estava completamente viciado e fascinado por aquilo, todo dia era uns 8 nomes pelo colégio, até que teve um dia, que me pegaram pixando a janela, chamaram minha mãe, ela ficou muito triste, como meu filho, tem tudo dentro de casa e não passa por dificuldades faz isso? minha mãe tem a mente igual de muita gente, acha que um pixador  vai pixar por ódio ou algo do tipo, como eu ia explicar pra ela a adrenalina que eu sentia na hora? como eu ia explicar que eu me sentia superior a todos em minha volta quando eu tacaca o nome? 

Chegando em 2010, eu não estava abalado, mesmo não tacando mais nome, eu sempre estava lá, olhando as paredes e marquises das ruas, troquei de escola, nessa escola tinha um cara que curtia xarpi, mais ele não tacava nome, eu ficava conversando com ele o dia todo sobre xarpi, ele sabia muito mais que eu, sabia os nomes de quase todo mundo do bairro, sabia as siglas, ele me ajudou muito a identificar os nomes, um dia eu queria muito jogar nome de tinta, mais eu não sabia aonde vendia, perguntei pra um amigo, ele me disse que tinha uma lojinha de construção que vendia lata de jet por 10 reais, comprei uma preto fosco, falei pra minha mãe que ia sair para fazer um trabalho na casa de um amigo, peguei a mochila, botei minha tinta nela e sai pra pista umas 20:00, a rua estava sem ninguém, andei umas 6 quadras depois da minha casa, achei um tintão, eu sabia que era ali que eu devia colocar meu nome, eu estava suando frio, tirei a tampa, e apertei o birro, a emoção tomava conta de mim, o coração batia mais forte, e o cheiro da tinta entrava em meu nariz e me viciava, quando terminei o nome, vi que tinha ficado uma bosta, todo cagado, aliás eu não sabia usar a lata, quando estava guardando a lata na mochila, uma mulher para na rua, e fica me olhando, sabendo que eu pixei a casa ao lado, ela chama alguém, eu sai correndo em direção a outra rua, ela não viu nada, quando deve ter virado a cabeça percebeu que eu sumi de sua vista como um rato, corri umas 4 quadras, suando muito resolvi parar de correr e procurar outras escoltas.

Andando pela rua, isso umas 20:30, uma garoto me chama atenção, ele estava sentado na calçada, sozinho, fumando um cigarro, algo me dizia que eu tinha que falar com ele, algo me dizia que ele era pixador, cheguei perto dele, e perguntei se ele curtia xarpi, ele balançou a cabeça fazendo sinal de sim, perguntei se ele queria jogar alguns nomes, ele concordou, andamos umas ruas, pegamos umas 3 muros, cagados pôs não sabíamos usar a lata ainda rs, até que chegou umas 22:00, estava na hora de eu voltar para casa, me despedi dele, peguei o celular dele, caso eu teria tinta, fui voltando pra casa muito feliz, alimentei meu vicio, vi a missão completa, nada agrada mais do que ver sua missão completa, o cheiro da tinta te hipnotizando de uma maneira muito forte, é incrível!

Passou meses, eu saia raras vezes pra xarpi, eu não queria começar sério mesmo agora, pôs os estudos iam me atrapalhar e eu não tinha muita liberdade pra sair de casa, até hoje não tenho liberdade de sair a hora que eu quiser, então resolvi começar sério mesmo quando eu fosse maior de idade, assim teria minha própria liberdade, o ano estava acabando, eu sempre vendo os nomes na avenida brasil, admirando as missões do NUNO,ISAK,VUCA,CAIXA e vendo os nomes da G80, como TICO,PEQUENO,GOL,HAIR,SAL e etc, quando eu ia para o centro da cidade, olhava para todos os lados, eu ficava fascinado pela quantidade de nomes em preto fosco colorindo e enfeitando tudo no centro, varias janeladas, varias marquises, varios topos…


Até hoje vivo assim, olhando e admirando, não importa o que os outros vão falar de você, oque importar é oque vem do coração, nesse caso o xarpi, eu admiro muito esse mundo da tinta, acho que todos que forem começar, pensem em 3 coisas, você pode morrer por uma coisa que não valeu muito a pena, você vai deixar sua familia preocupada ou seus filhos, e o mais importante, faça de coração e na humildade, não adianta você ir jogar nome para aparecer, para chamar atenção de uma garota ou garoto, você tem que sentir que essa é a hora, a hora de pixar!

Dedico esse texto a todos que pixam, pixaram, que curtem a arte, que respeitam, que morreram por nossa arte proibida.

Lembre-se, isso não é brincadeira, é sério, se sentir no coração, faça, você não vai se arrepender!